*Por Talita Guimarães

Arte: Talita Guimarães
Sentei no chão do supermercado para olhar em volta. Estava à procura de informações sobre o que era estar ali. Não me interessava a vida lá fora, nem o antes ou depois. Pouco me importava quem eram aquelas pessoas. O que eu queria mesmo era ver como as pessoas eram enquanto caminhavam por aqueles corredores. O que traziam nas mãos, como se vestiam, com quem estavam? Qual olhar traziam? Que nível de atenção dedicavam ao seu entorno?
Por alguns minutos bebi gestos à cata de intenções. Investigava em silêncio o sentido daquilo tudo para cada um ali. Sentia-me observadora privilegiada da realidade, como alguém que se retira do fluxo para estar à parte de toda ação, totalmente absorta pelo ambiente, a atenção voltada para seus transeuntes, gestos e menções.
___
Seu texto lembrou-me das inúmeras vezes que me sentei no chão da rodoviária de Belo Horizonte (por falta de cadeira mesmo!) para esperar até o próximo ônibus – eles saíram de hora em hora. Nesses intermináveis momentos de espera eu criava na minha cabeça as histórias dos sapatos. Haviam sapatos que já lutaram em batalhas, que correram junto com o Forrest Gump, que participavam de bailes quase todas as noites, que não sabiam exatamente onde estavam de tão novinhos… As “histórias” dos sapatos me distraíam e me faziam sentir menos miserável pela espera de um mal elaborado transporte público.
LikeLiked by 1 person
Que bela forma de fabular sobre caminhos enquanto passa o tempo! Lembra aquela canção “Sapato velho”. Gostei tanto desse teu recorte, Renata! Abraço grande. 😉
LikeLiked by 1 person