*Por Meiri Farias. Atualizado em 18/05
Sempre fui um pouco fascinada pelo rádio. Talvez porque passei boa parte da minha infância sem TV ou computador em casa e o radinho e o livro eram as únicas maneiras de “conectar-se” ao o mundo externo (ou interno, se olhar por outra perspectiva). O tempo passou e como esperado após tantas revoluções tecnológicas, me afastei um pouco dessa mídia, pelo menos até a faculdade. Foi durante os três semestres de Radiojornalismo que redescobri o fascínio das narrativas orais e pelo texto que “mostra” e não apenas conta o que acontece. Lembro que foi bem nessa época, entre 2012 e 2013, que meu querido professor de rádio Marcelo Cardoso comentou sobre o podcast ser uma possibilidade de sobrevivência para essa mídia. 2012? Podcast? Parecia algo tão nichado e fora de contexto naquela época. Mas isso ficou na minha cabeça e a previsão do mestre foi certeira.
O podcast tem se destacado como uma das mídia mais promissora do momento. Segundo divulgados pelo do Spotify, o consumo de podcast na plataforma cresce 21% por mês desde janeiro de 2018 no Brasil. Além disso, o país é o segundo país que mais consume podcasts segundo pesquisa Podcast Stats Soundbites, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Sociedade & Cultura e Comédia são os gêneros mais ouvidos no Spotify Brasil, seguidos por programas de Educação, TV & Filmes e Notícias.
Em tempos de quarentena, estão pipocando opções de entretenimento digital para ajudar a lidar com o momento de isolamento físico, cada um encontra sua maneira de lidar com a ansiedade e cuidar da saúde mental durante a pandemia do Covid 19. No Armazém, também estamos guardando quarentena nas últimas semanas e escutar Podcasts foi uma das opções mais divertidas (e práticas!) que encontramos para manter algum nível de “normalidade”. A seleção é baseada nos podcasts mais escutados por mim (Meiri Farias, editora do Armazém de Cultura) nos últimos meses e que se intensificou bastante nas últimas semanas. Bota o fone, ajusta o volume e prepare-se para rir, se informar e, por que não, se emocionar um bocadinho!
Sabe aquela máxima “Fale de sua aldeia e estará falando do mundo”? o Budejo funciona mais ou menos assim. Produzido por jovens da região do Cariri, no Ceará, o programa fala de temas variados, mas sempre de uma ótica muito própria da região e sempre demonstrando a relação afetiva que os integrantes têm com sua terra. Os episódios são instigantes e apresentam análises muito interessantes em clima descontraído de “grupo de amigos”. Sendo de família alagoana e tendo morado no Nordeste, consigo me identificar com situações muito específicas compartilhadas na região e ao mesmo tempo aprender e descobrir toda uma perspectiva de universo que hoje é mais difícil de acessar, como paulistana. Os temas variam de análises sociais e políticas a conversas mais leves e livres, mas os meus episódios favoritos são:
Conhecer o trabalho da Rádio Escafandro me fez lembrar um pouco do porquê quis fazer faculdade de jornalismo. O podcast do jornalista Tomás Chiaverini apresenta uma investigação jornalística extremamente completa por episódio, tudo em aproximadamente uma hora. Os temas escolhidos pelo jornalista são curiosos, mas a abordagem é ainda mais. Desde um passeio a pé por São Paulo que rendeu conversas com personagens muito inusitados até a relação da inteligência artificial com a saúde, cada episódio da Rádio Escafandro é literalmente um mergulho profundo no comportamento humano. Meus episódios favoritos vão por esse caminho:
Esse talvez demande uma explicação, pois o título é realmente inusitado. É um episódio sobre a produção de alimentos orgânicos e a ação de projetos sociais na área. Histórias de personagens como um grupo de agricultores de Parelheiros e a chef Paola Carosella se cruzam de forma muito interessante
Toda a comunidade ouvinte do podcast está de luto com o anúncio do fim do Respondendo em voz alta. Laurinha Lero, codinome de Deus sabe quem – a líder anônima do programa, avisou que o episódio mais recente seria o último. Ainda assim, maratonar os 20 episódios disponíveis é mandatório nesse tempo de crise. A dinâmica é simples: Laurinha recebe perguntas no Curious Cat e no Telegram e responde em voz alto no seu programa de rádio (é programa de rádio, não podcast, está entendendo?). O que torna a experiência interessante é que o conteúdo transita deliberadamente entre o nonsense completo e a genialidade absoluta. Os ouvintes enviam perguntas absurdas, pedem conselhos, comentam causos aleatórios de sua vida. E Laurinha responde as perguntas fazendo um esforço enorme em não responder as perguntas. É engraçado no nível “passar vergonha rindo alto no trabalho”. Absolutamente imperdível.
É impossível falar sobre podcasts que me acompanham sem citar o Confins do Universo. Foi com o programa do pessoal do site Universo HQ que comecei a me aventurar por essa mídia ainda em 2016, antes dessa explosão de podcasts de todos os tipos. Encabeçado pelo editor chefe do site, Sidney Gusman e outros colaboradores fixos como Samir Naliato, Marcelo Naranjo e Sergio Codespoti, os episódios se aventuram pelo universo dos quadrinhos e nerdices afins, sempre com convidados que enriquecem ainda mais o conteúdo. É divertido como estar na mesa de bar, mas com conteúdo de rigor jornalístico. Eu que tenho o hábito de escutar programas que gosto várias vezes, tenho episódios do Confins quase decorados.
Podcast do portal de entretenimento Papel Pop, o podcast é comandado por Phelipe Cruz, Marina Santa Helena e Samir Duarte. Também tem uma pegada de conversa entre amigos, muito humor, mas com informação e conteúdo, o Wanda é uma ótima opção para maratonar pelo acervo robusto: são 286 episódios até agora! Outro destaque do programa é sempre trazer convidados muito interessantes, de Pabllo Vittar a Marina Person.
Sim, é isso mesmo! Um dos melhores!
Tenho procurado muito conteúdo produzido e/ou sobre povos indígenas e me deparei com esse podcast muito bacana. Infelizmente são só três episódios (e o mais recente é de julho de 2019), mas o material é tão interessante que seria impossível não mencionar. Cada episódio é focado em uma personalidade indígena, são curtinhos (aproximadamente 20 minutos).
Podcast do caderno de cultura da Folha de S. Paulo, tem um jornalismo mais “tradicional” que os programas citados anteriormente, mas ainda com bastante leveza e conteúdo sobre arte e cultura. É interessante porque também traz indicações de atividades pela cidade.
O podcast é literalmente o que promete no título. A equipe do Nexo dá dicas de como começar a consumir determinado tema ou conteúdo. É bem interessante porque apresenta o nível qualidade que já conhecemos do jornal, em um formato bem dinâmico. Gosto especialmente do especial de literatura infantil que foi publicado em outubro de 2019.
Extras:
Podasts promissores, mas que ainda não explorei o suficiente para analisar:
– Que dia é hoje? – Pequenas crônicas ficcionais para rir e chorar junto, com texto e direção sempre brilhante do Vinícius Calderoni.
– 451 MHz
Meiri Farias
Café, música e quadrinhos são combustíveis para o que você encontra aqui. Jornalista especialista em Mídia, Informação e Cultura, com experiência em programação não-linear (VoD), produção de conteúdo e comunicação coorporativa, Meiri Farias é paulistana convicta e contraditória, latino-americana em descoberta e adora falar sobre isso. Tomando café, obviamente.