Questão de Opinião

10 autoras maranhenses que você precisa conhecer

Da nova geração de romancistas à poesia madura, conheça a seguir trabalhos de grande qualidade literária produzidos por mulheres maranhenses que valem a pena conhecer

*Por Talita Guimarães

Elas falam sobre todos os assuntos que as atravessam. Escrevem sobre vários estados. Proclamam incontáveis vozes. Ficcionam e fantasiam, dançam e criam, revelam-se através da palavra escrita. São autoras maranhenses de diferentes gerações, cinco delas já agraciadas com honrarias literárias, que escrevem poesia, contos, romances e dramaturgias que refletem seus respectivos tempos e afetos, interesses e necessidades.

Aurora da Graça (Rosário-MA), Jorgeana Braga (São Luís-MA), Laísa Couto (São Luís-MA), Júlia Emília (São Luís-MA), Sabryna Mendes (Itapecuru-Mirim-MA), Jaqueline Morais (Pindaré-Mirim –MA), Milena Carvalho (São Luís-MA), Lindevania Martins (Pinheiro-MA), Clarissa Carramilo (São Luís-MA) e Maria Thereza de Azevêdo Neves (São Luís-MA) são as autoras maranhenses cujos livros indicamos a seguir.

AURORA DA GRAÇA

A poeta e professora rosariense Aurora da Graça se alimenta dos elementos que a vida ao redor lhe fornece, da pungência contida em porta-retratos empoeirados à leveza de barquinhos à vela. Sua poesia, fortemente marcada por uma conjunção de imagens e sentimentos, evoca uma voz interior que passeia pelo tempo da memória, das paixões aos afetos cujo lugar de morada inevitável é o poema.

tempoguardado

A coletânea O Tempo Guardado das Pequenas Felicidades (2009) reúne os três primeiros livros de Aurora da Graça – Cavalo Dourado (1977), Nó de Brilho (1981) e Memória da Paixão (1987) – à sua poesia inédita. Poeta admirada por gigantes como José Chagas e Carlos Drummond de Andrade, Aurora da Graça, tão imensa quanto, domina a versificação com uma investigação profunda acerca dos sentidos que atravessam a existência humana. Há em sua voz poética uma maturidade que paira sob a dor de forma incomum: não como coisa superada, mas como marca sensível que dá sabor a tudo o que foi vivido, deixado pelo caminho ou usurpado do sentir. Ler sua poesia resulta em uma experiência de mergulho em águas claras, onde muito do que a sabedoria humana conhece sobre matérias caras como tempo, vida, desejos e liberdade encontram um pouso lírico e arrebatador na palavra escrita por Aurora.

 

JORGEANA BRAGA

Mantendo o ritmo de lirismo que arrebata, Jorgeana Braga é dona de uma voz narrativa que fala por uma geração de ludovicenses que viveu o tempo do encontro de anseios e inquietações efervescentes em busca de sentido para a vida e as escolhas que seguir vivendo requer.

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Com A Casa do Sentido Vermelho (2013), Prêmio Aluízio Azevedo na categoria Romance do 34º Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, a ludovicense desponta como uma das mais talentosas prosadoras contemporâneas em atividade ao trazer a tona em um coeso romance de modestas 88 páginas, as vozes incontidas de personagens que se entrelaçam em uma trama onírica de amor e ódio, desejos e solidão, ausências e memórias regurgitadas. Surpreendentemente suave, o texto de Jorgeana desliza por uma prosa poética que consegue falar em primeira pessoa com uma fluidez que transporta o leitor para dentro da cabeça da narradora. Lírica, sua escrita cria imagens sensoriais e produz novas palavras para aglutinar sentidos.

 

LAÍSA COUTO

Sem deixar desvanecer o lirismo de que temos falado, a escritora maranhense Laísa Couto vai além ao desbravar as possibilidades da literatura fantástica no belíssimo romance Lagoena.

lagoena

Ao transportar o leitor para uma atmosfera de contos de fadas com todos os elementos a que o gênero tem direito – universo paralelo com seres mágicos e desafios que testam as capacidades de inteligência, amizade e bravura – Laísa concebe um romance muito bem alicerçado em folclore e mitologia para falar dos sonhos e obstáculos pessoais que todos nós enfrentamos ao longo da vida. Sua protagonista Rheita é uma criança destinada a salvação da uma terra fantástica que ao partir em busca de respostas pessoais assume o compromisso de levar sua missão maior até o fim. Sua trajetória, acompanhada de perto pelo leal amigo Kiel, é marcada por momentos tensos e de superação que encaminham a narrativa por caminhos sombrios da existência dos quais não podemos nos furtar. Coragem e medo caminham lado a lado, assim como humanidade e nobreza nesse livro que emociona e faz pensar.

 

JÚLIA EMÍLIA

vivendo teatrodança

Poesia e prosa fundem-se na escrita para teatro da dramaturga maranhense Júlia Emília, fundadora do Grupo TeatroDança, que em 2019 chega aos trinta e quatro anos de atividades. A trajetória do Grupo TeatroDança, fundada em processos de investigação do corpo e do movimento a partir de elementos das áreas teatrais e dançantes, pode ser conferida no livro Vivendo TEATRODANÇA: Investigações de uma artista maranhense para crianças de qualquer idade (2015), que reúne os estudos e experimentações que resultaram nos espetáculos “Bicho Solto Buriti Bravo”, “O Baile das Lavandeiras” (texto vencedor na categoria Teatro do 30º Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís em 2006) e “Meninos em Terras Impuras”.

Os ensaios analíticos que compõem o livro apresentam a história do grupo desde sua formação, marcada pela passagem e colaboração de muitos artistas, entre eles o músico Zeca Baleiro e o poeta Ferreira Gullar. Ao tratar da corporalidade como forma de expressão, o trabalho do TeatroDança faz dialogar a tradição com a cultura popular com um profundo respeito pela memória corporal e tudo o que ela comunica sobre pessoas, afetos, costumes e histórias de vida.

 

SABRYNA MENDES

cafés_amargos

De volta à prosa poética, esta jovem autora maranhense estreou na literatura em 2013 com o texto inédito do romance Cafés Amargos, premiado pelo 35º Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís. Em 2015, Sabryna Mendes publicou o livro cuja bela narrativa da inspiração surpreende ao escapar do óbvio enredo sobre um escritor que perde o jeito para escrever após se deslumbrar com o sucesso. A prosa leve de Sabryna Mendes é elegante e cumpre com louvor a missão de enredar o leitor no enlace entre as histórias de vida de Tomás Pacheco, um escritor amargurado e Marina, uma jovem leve e sonhadora. Com habilidade e talento, Sabryna entrelaça momentos cruciais do passado e do presente dos protagonistas prendendo o leitor página após página. O que mais me comove em Cafés Amargos (2013) é a delicadeza com que a autora constrói uma estória de amor e amadurecimento.

 

JAQUELINE MORAIS

lili ffrit

Transitando entre a fantasia e a crítica social por meio de uma narrativa fluente que se desenvolve rápido, a escritora Jaqueline Morais entrega um conto de fadas atualizado, envolvente e surpreendente com a série Lili Ffrit, que conta com os volumes Lili Ffrit e o mundo dos humanos (2017) e o recém-lançado Lili Ffrit e o Guerreiro da Noite (2019). Após sua primeira grande aventura no mundo dos humanos, a encantadora fada Lili Ffrit está de volta ao reino da literatura para uma nova jornada fantástica, desta vez contra inimigos cujos planos de vingança e destruição põem em risco sua vida, dos seres mágicos que a rodeiam e o lugar onde vivem. Com uma escrita que alterna as vozes narrativas dos personagens, levando o leitor por uma viagem rica em perspectivas múltiplas, a escritora maranhense Jaqueline Morais dá vida a uma continuação que aprofunda os conflitos e o amadurecimento de personagens fortes, determinadas e apaixonadas.

 

MILENA CARVALHO

quem é essa mulher

Delicadeza e força se aliam na corajosa busca por respostas contida em Quem é essa mulher? (2018), primeiro livro da escritora maranhense Milena Carvalho. Ao recompor com esforço os passos de uma trajetória de vida marcada pela violência sexual, a protagonista Liane elabora a própria identidade a partir de suas escolhas e caminhos. Mas também de confissões nunca antes feitas a si mesma e para Márcio, seu grande amor deixado durante décadas em um doloroso silêncio. Uma leitura bonita, comovente e necessária.

Cineasta de formação, a autora mergulha na autoficção para elaborar com coragem e poesia um evento traumático de seu passado. E assim nasce para a literatura uma voz delicada capaz de transformar tempestades em bonanças.

 

LINDEVANIA MARTINS

zona de desconforto

Uma das experiências de leitura mais pungentes da atualidade, Zona de Desconforto (2018) de Lindevania Martins não ilude: desconforta! Em 08 contos sobre a condição humana em existencial território de adversidades, a autora dá verossímil voz em primeira pessoa a mulheres e homens espoliados por traumas de ordem afetiva, familiar, moral. Mas não se engane, o desconforto é necessário para que tantas vozes ganhem volume e superem de modo imprevisível suas estadias em zonas tão brutais.

Experiente e premiada, Lindevania acumula contos e poemas publicados em antologias literárias Brasil a fora, com sua escrita marcada por uma força narrativa arrebatadora que lança luz com profunda honestidade sobre a condição humana.

 

CLARISSA CARRAMILO

cidade espanto

As múltiplas faces de um protagonismo feminino com seus conflitos, dramas e contradições ganham as páginas do perspicaz romance de estreia da jornalista maranhense Clarissa Carramilo. Com crítica, ironia e humor, a autora constrói um retrato bastante honesto da jornada da jovem jornalista Antonela por uma São Luís espantosamente viva, até mesmo em seus recantos mais sombrios. Com um olhar afiado para enquadrar o feio e o belo, Cidade Espanto (2018) supera com louvor qualquer redução romântica de São Luís.

Considerada um presente do Jornalismo para a Literatura, Clarissa Carramilo estreia na ficção com o mérito de trazer sua apurada apreensão sensorial da realidade para o retrato de personagens, paisagens e acontecimentos.

 

MARIA THEREZA DE AZEVÊDO NEVES

Maria Thereza de Azevêdo Neves é um achado. Desses preciosos que só encontra quem garimpa uma livraria por oras a fio, na paciência de quem sabe que há de ver brilhar um tesouro por baixo de tantas lombadas e capas duras. Herdeira intelectual de uma família culta e importante para as letras é sobrinha-neta dos famosos escritores maranhenses Aluísio e Artur Azevêdo. Reconhecida por grandes nomes como a escritora Arlete Nogueira da Cruz e o poeta Nauro Machado, esta discreta autora maranhense é dona de vasta produção escrita, que se desdobra em contos, crônicas, poemas, memórias, romances e literatura infantil. A saber: “Atalhos” (2005), “Historinhas” (2005), “Minha Árvore” (2006), “107” (2008), “Pena vadia: cantando & contando” (2012), “Café ou chocolate?” (2013), “O pecado é delas” (2017), “No Pantheon” (2019) e Lérias” (2019).

lérias

No recém-lançado Lérias (2019), Maria Thereza reúne crônicas publicadas ao longo de dois anos no Jornal da Tarde, estabelecendo um diálogo franco, terno e gentil com os leitores. Aliás, é justamente por desejar transformar seu espaço no diário em um ambiente leve de “conversa mole” que a autora chama essa coletânea de “lérias”, que significa papo fiado. Ao se permitir compartilhar conosco sua visão de mundo em primeira pessoa, Maria Thereza produz beleza. Como quando comenta a experiência de ser avó e revela uma perspectiva absolutamente singela sobre acolher as novas gerações de sua família; ou quando dedica palavras bem escolhidas ao resgate de memórias sensoriais da infância com gostinho de manga anajá.

 


Talita Guimarães

Natural de São Luís – MA (1989). É jornalista, escritora e mediadora de leitura. Licencianda em Letras/Português (UFMA). Autora dos livros “Vila Tulipa” (2007) e “Recorte!” (2015). Integra ainda a coletânea “São Luís em Palavras” (2017). Idealizadora e mediadora do projeto Literatura Mútua. Atualmente trabalha com revisão e preparação de textos em São Luís-MA, onde reside.

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