*Por Meiri Farias
O que é ser forte para você? Como gerações e gerações de crianças desse Brasil, uma das minhas primeiras referências (talvez literalmente a primeira de todas) de força na ficção trajava vermelho e carregava um coelhinho azul. Mônica, a mais forte da turma, a dona da rua do Limoeiro. Qualquer menino travesso que ousasse encostar no Sansão ou fazer piada dela, saia de olho roxo e com galos na cabeça.
Esse cenário tão conhecido da nossa infância abre a GraphicMSP “Mônica – Força”. A sequência clássica da dentucinha perseguindo o Cebolinha e o Cascão nos situa na história, mas esse confronto é balela perto do que a garotinha vai enfrentar. Pela arte de Bianca Pinheiros, vamos descobrir junto a Mônica que ser forte na maioria das vezes não tem nada a ver com saber usar os punhos.
Desde o início, as GraphicMSP vem apresentando os personagens de Maurício de Sousa em uma perspectiva diferente do que conhecemos desde a infância. Com temáticas e estilos de arte diversos, o projeto tem mais liberdade (e permissão do Maurício) para conduzir os personagens por caminhos inesperados. Astronauta (Danilo Beyruth) e Ingá (Shiko) são bons exemplos de como é possível apresentar um olhar completamente surpreendente dos personagens a qual estamos habituados. Em Força essa diferença e sútil, mas talvez mais representativa: trata-se de um conflito familiar na maior família margarina desse país. Os Sousas estão em apuros.
Dona Luísa e o “Seu” Sousa, pais da Mônica enfrentam uma crise no casamento. Não se sabe o motivo exato, pois acompanhamos toda a história da perspectiva de Mônica, mas é possível imaginar que se trata de um desgaste natural que toda relação sofre com o tempo. Mas o clima está péssimo e mesmo uma garotinha de seis anos pode sentir que a paz familiar foi abalada.
Como trabalhar um tema tão delicado assim em um produto da Turma da Mônica? É o tipo de desafio para uma artista que domina muito bem todos os recursos do quadrinho. E é no que não é “dito” de modo direto, que Bianca Pinheiro constrói um ambiente de conflito. As onomatopeias são quase um personagem a parte e pintam o clima de infelicidade que paira pela casa. O ponto mais alto da HQ é a narrativa paralela da torneira quebrada. Pinga pinga pinga e ninguém consegue resolver esse problema. A sensação é aflitiva e quase sonora, fazendo eco com o desespero da garota.
O desfecho é um pouco menos surpreendente, mas deixa uma mensagem doce no ar. Nenhuma família é perfeita e aprender a lidar com conflitos emocionais faz parte do crescimento. Obrigada Bianca, por nos apresentar uma nova força da nossa querida dentucinha.
PS.: Ah! E vale a pena folhear as páginas finais até a terceira capa, há uma “cena pós-credito”!
Título: Mônica – Força
Autora: Bianca Pinheiro
Publicão: MSP/Panini
Ano: 2016
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