*Por Beatriz Farias
A gente cresceu com uma ideal de representação feminina nas artes visuais (além de todos os outros âmbitos) que é muito baseada no olhar masculino. Ainda sabendo que mulheres no ramo sempre existiram, estudamos poucas de maneira institucional e, ainda assim, através de análises que quase sempre eram também masculinas. Talvez por isso a gente não se veja. Talvez por isso a gente tenha dificuldade tanta dificuldade em reconhecer e aceitar o que faz.
Com base nas inúmeras discussões internas e com companheiras de ofício sobre a consciência que a gente tem do que produz, comecei a pensar porque já chegamos cheias de justificativas, ainda quando gostamos do nosso trabalho. Não são apresentações a respeito do que produzimos, são praticamente pedidos de desculpas por ser, sei lá, algo que nos satisfaça.
A partir da urgência de ter registrado que essas pessoas existem, se identificam com o gênero feminino e estão expressando um mundo inteiro através de lápis, caneta, giz de cera, nanquim, tela de computador, dentre tantas outras ferramentas, comecei a contatar as meninas que estavam ao meu redor fazendo trabalhos que necessitam ser vistos pela grandeza que habitam. E algumas dessas meninas começaram a indicar outras meninas, fazendo com que percebêssemos que de onde veio isso pode vir tão mais.
Desse modo, o objetivo é fazer um mural que será atualizado continuamente, porque somos muitas. Só não somos mais porque o conhecimento e visibilidade demora, no mínimo, duas vezes mais para chegar até nós. Então se não nos abrem as portas, aqui estamos para cria-las com nossos próprios materiais e a resistência contínua, sendo esta matéria da qual nós mesmas somos feitas.
Rompendo com a lógica de ter sempre um intermediaOr sobre o que gostaríamos de falar a respeito da nossa arte, cada menina foi convidada a escrever sobre seu próprio trabalho, movimento ainda tão cheio de dificuldades quando se trata de ir desconstruindo todos os padrões estéticos e de normalidade que nos foram impostas desde cedo e de certo modo, ainda são.
Não tem ninguém melhor para contar como é estar sob nossa pelo do que nós mesmas.
“O que vem do traço delas” não é um presente para o dia das mulheres como as flores que nos entregam como desculpa para o resto de uma vida de opressão, é um jeito da gente se olhar e ser olhada, com a certeza de dizer que nós não vamos recuar.
- CAROL SOUZA
- CARLA FONSECA
- DANYA ALVES
- GABRIELA PYLES
- GABRIELLE MARIA
- ISA WHITAKER
- JUSSANE PAVAN
- LORENA BARROS
- MONIQUE DOS SANTOS
- NICOLE DE SOUSA
- PALOMA M.
- RAFAELA LIAMAS
- TALITA HORNICHE