*Por Talita Guimarães
O sol cai no horizonte pintando o céu de tons alaranjados. É o movimento de todo dia que se deita para a noite levantar. Nos segundos que nos restam de um sábado ainda claro, a beira mar, vemos um balãozinho de ar verde saltitar pela areia fria de um espigão costeiro na maré baixa.

Arte: Talita Guimarães
Entre o pôr do sol e a cena inusitada, ficamos divididos, comovidos pela lembrança de um balão que num tempo já distante se arriscara em meio a um trânsito pesado.
Filipe se adianta ao meu pensamento e comenta que ali sim, na praia, seria o habitat natural de um balãozinho feliz. E mais uma vez nos vemos diante de um recorte partilhado, que revela sua poesia a nós dois simultaneamente.
Acontece tudo muito rápido: a esfera de fogo avermelha no céu à medida que se aproxima do mergulho no mar rumo ao oriente e o balãozinho salta sobre a faixa de areia quase como criança que corre pulando de alegria. Segundos de tensão enquanto o balãozinho flutua sobre um trecho de pedras escuras pouco antes de alcançar as marolinhas da beira mar. A essa altura o sol já é apenas um rastro vermelho e laranja no céu ludovicense. Lembrança de um dia que se vai.
2017 foi um exercício de amor e coragem, equação para resistência. E ainda assim, tempo de trafegar na contramão da desigualdade que insiste em nos atropelar com brutalidade, como se frágeis balões de ar prontos para estourar nessa corrente de retrocessos fôssemos.
Acontece, porém que não somos. Mais que sobreviver, em 2017 vivemos plenamente como acreditamos. Resistindo tanto quanto foi humanamente possível, cumprindo na capacidade máxima o que foi previsto e encerrando com dignidade o que se deu por vencido.
2017 vai se pondo na velocidade com que contornamos o sol, passando o bastão para um 2018 que não tarda a raiar. Como o balãozinho que flutua rumo a um tempo novo ao mesmo tempo em que não perde de vista o horizonte alaranjado de tudo o que foi percorrido.

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