*Por Talita Guimarães
Quando os ônibus com ar-condicionado da linha expressa metropolitana começaram a circular na região onde moro, a primeira coisa que me veio a mente quando me aconcheguei no assento acolchoado foi que aquela sensação só podia ser a de um abracinho. Moldando-se às costas dos passageiros, a poltrona envolve de leve nas laterais, como um abraço curto. Pequeno, mas inegavelmente confortável.

Arte: Talita Guimarães
Desde então, aos confortos mínimos, involuntários, que nos alcançam ao longo do dia quase sem querer, mas com efeito, chamo abracinhos.
Acumuladora de coisas e causos mínimos, venho listando mentalmente minha própria coleção de abracinhos há semanas, ciente de que há muitos mais a brotar de onde vieram os primeiros.
Como estas breves narrativas a que chamo recortes desde 2010, os abracinhos estão por aí, passando por nós e nos tocando de leve a todo instante, nos assentos dos ônibus, nos sabores dos lanches preferidos, nas palavras engraçadas que nos arrancam sorrisos surpresas, nas canções que apaziguam a alma, em algum meme perspicaz e divertido, nos entendimentos que trazem paz, nos descontos que se descobrem no caixa, nas gentilezas cotidianas.
Meus três abracinhos preferidos vem respectivamente:
1) Do assento acolchoado do expresso metropolitano;
2) Do mingau de milho da tia Socorro, que vende lanches no meu trabalho e me saúda por Talitinha;
3) De todo e qualquer purê de batata que me alcance as papilas gustativas.
Porque abraço é lugar de conforto, os abracinhos que muitíssimo grata acolho em meio a rotina me ajudam a fechar os olhinhos por alguns segundos e apenas curtir as vantagens de estar viva e, a despeito de tudo o que nos embrutece e anestesia, ainda sensível aos pequenos deleites da vida.
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