*Por Talita Guimarães
Houve um tempo em que eu contava pés de flor. Ipês. Quando floresciam pela cidade. Até perder a conta. Lembravam-me amigos.

Arte: Talita Guimarães
Depois foram as kombis, veículo pelo qual me liguei após uma extraordinária viagem de trabalho com um coletivo de cinema.
Na volta, precisei que permanecesse a sensação de estar em trânsito, pelo mundo, a bordo daquele carro de formato tão fofo e amigável, capaz de transportar toda sorte de ideias e aventuras. Daí que comecei a andar pela cidade atenta a todas as kombis que passavam, sorrindo internamente para cada uma.
Porque gosto de manter afetos aquecidos, tento continuar enxergando o que me aquece por onde caminho. Para saber que o que amo ainda está em mim, embora externamente distante, afastado, ciclo encerrado.
Quando a Raposa ensina ao Pequeno Príncipe que fitar os campos de trigo após ser cativada por ele a confortará, pois lembrarão seus cabelos cor de ouro, entendo que se trata de um exercício amoroso de associar o que não está mais ao alcance a algo até então improvável, de repente capaz de abrigar um ansiado aconchego familiar.
Assim, algumas despedidas não rompem os laços criados.
A energia afetiva prolongada lubrifica o olhar para as saudades que repousam ao redor.
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