*Por Meiri Farias
“Pop planetário” é assim que Paula Cavalciuk define sua música. Com referências que vão de Mercedes Sosa a Bee Gees, a artista conta que seu som deriva de todas as as referências que absorve, trazendo rastros de tango, guarânia, carimbó, rock e muito mais no disco “Morte & Vida”, que contou com produção de Gustavo Ruiz e Bruno Buarque. “Resolvi chamar de ‘pop planetário’, pois tomei coragem para me sentir bem cantando minhas músicas em qualquer lugar deste planeta.”
Natural do Vale do Ribeira e radicada em Sorocaba, Paula também atua em projetos que visam apoiar meninas e mulheres, estimulando-as a criar seu próprio conteúdo. “O importante é que isso ganhe força, expanda e atinja mulheres que estão fora do movimento. Mulheres que não tem oportunidades de se emanciparem e se reconhecerem como artistas.” Ressaltando a importância do feminismo nas áreas que mais carecem de empatia, Paula fez uma campanha que chamou mulheres a participar de um vídeo-protesto para a música “Morte e Vida Uterina”. O vídeo, que exibe cartazes com mensagens de protesto e empoderamento, foi lançado próximo a repercussão do caso de estupro coletivo no Rio Janeiro em junho de 2016.
Confira a entrevista completa!

Foto: André Pinto
Armazém de Cultura: Você define o seu trabalho como “pop planetário”, poderia nos explicar mais sobre o termo?
Não seria leviana de dizer que é pop interplanetário, pq ainda não saí do globo terrestre. Vamos por partes. 😉
Confira o clipe de “O Poderoso Café”:
AC: Vimos que no momento você esta em turnê com “Morte & Vida”, viajando por diversos estados do país. Como está sendo a recepção da sua música pelos lugares que passam?
Paula: Existe uma resistência por parte de algumas pessoas que estranham uma mulher usando sua voz como bem entende, e sinto que é mais cultural, do que musical, este estranhamento. Vem de um costume de esperar que a mulher ocupe um determinado lugar na sociedade, inclusive na música. Esperar que o fato de eu não ter um nome de banda, mas levar meu nome na frente, possa sugerir que serei uma cantora de voz doce que vem pra embelezar as coisas e no fim, em embeleza, também, mas quem tiver na disposição de se despir de preconceitos por 50min de duração de show.
Mas a grande maioria das pessoas vem dando um feedback muito positivo! Inclusive os mais resistentes, no geral, homens que ouviram o disco com certa estranheza e tomaram um sacode no show . (risos) É bacana ver essa opinião dos caras mudando, após o show, mas tem hora que enche as tampas, ter que ouvir que o disco não agradou, porque eu sei bem o que ~não agradou~. Mas vamo que vamo!
AC: Gostamos bastante da arte da capa do seu disco! Poderia contar um pouco sobre o processo de elaboração dele? Desde a escolha de músicas até o projeto gráfico?
Paula: Fotos por Camila Fontenele e arte final por Daniel Bruson. As locações foram na cidade de Piedade, onde nasci e onde meus pais viveram. Uma delas foi a casa que meu avô construiu assim que chegou da Rússia, na década de 30.

Capa do disco “Morte e Vida”
AC: O vídeo de “Morte e Vida Uterina é feito por meio de mulheres que enviaram vídeos com mensagens de protesto e empoderamento. Como sente a força do discurso que vem pela arte, e como acredita na potência que isso chega nas pessoas?
Paula: Encontrei na música uma maneira potente de comunicação e pretendo usá-la pra expressar tudo que for urgente pra mim.
O empoderamento feminino é urgente! Às vezes, dentro da nossa bolha se Facebook, parece que não, mas olhar para a realidade das mulheres, principalmente as periféricas, as pobres, as negras, me faz querer sair cada vez mais dessa bolha e dialogar com quem mais precisa. Muitas vezes esse diálogo vem apenas da representatividade que uma mulher em turnê pode ter no palco.
AC: Conhecemos o seu trabalho pela participação que fez no show da Larissa Baq e Juliana Strassacapa, durante o SIM Festival no projeto “Ni una menos”. O fortalecimento de mulheres produtoras de arte vem crescendo nos últimos anos, e o que se percebe é um apoio mutuo de ver esses trabalhos ganhando força. Como você avalia esse cenário para as mulheres artistas atualmente?
Paula: É ótimo assistir este movimento crescendo e ganhando vida, ganhando as ruas, os palcos e backstages. Eu fico feliz demais e me sinto fortalecida, mesmo de longe.
O importante é que isso ganhe força, expanda e atinja, como eu já disse anteriormente, mulheres que estão fora do movimento. Mulheres que não tem oportunidade de se emanciparem e se reconhecerem como artistas.
É a luta diária, o exercício de empatia e o reconhecimento de privilégios que vai nos fazer expandir de verdade, e aplicar o feminismo nas áreas que mais carecem. Estamos no caminho.
Confira o clipe de “Morte e Vida Uterina”:
AC: Algum artista ou disco influenciou diretamente a sua música? e atualmente, o que tem tocado na sua playlist?
Paula: Eu sou uma esponjinha musical hahaha. Tenho até receio de estar plagiando, quando estou criando.
Meu disco vc vai encontrar referências de Mercedes Sosa, a Bee Gees.
Ultimamente venho ouvindo muito Carne Doce, francisco, el hombre. Também me encantei pelo trabalho de Patricia Polayne, Ana Luisa Barral e Gato Negro, artistas que encontrei nesta turnê.