*Por Meiri Farias
O meu despertar para os variados aspectos que compõe uma obra tem muita relação com o início das minhas resenhas. A necessidade de entender com profundidade a “história” a ser contada, fez com que construísse uma conexão muito especial com a melodia de uma canção, por exemplo – sempre fui partidária da letra como elemento mais importante, nesse caso, trazer a música brasileira para o centro da conversa exigiu maior dedicação na leitura de melodias. Com o quadrinho o processo foi semelhante: primeiro pelo conteúdo do balão, depois se encantando com o desenho que comunica por conta própria, e agora encontrando capacidade narrativa dentro desses elementos que deixamos passar se não nos debruçarmos com atenção. Na resenha do dia, Quiral (Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho), escolhi a cor como protagonista.
A narrativa se desenvolve a partir dessas cores: conhecemos a história de dois personagens em Quiral, uma Mulher e um Capitão, vivendo em tempos diferentes, mas confrontando um mesmo perigo: um monstro marítimo que ameaça o vilarejo, mas também garante o sustento das famílias da região. A principal conexão entre os personagens se dá pelo diário onde o Capitão registra seu cansaço e angústias, este que é lido pela Mulher. Ambos os fios da narrativa dividem as mesmas páginas, separados apenas pela cor e a experiência da leitura chega ao seu ápice quando um quadro divide os dois espaços ao mostrar o Capitão escrevendo enquanto mulher lê. Mesma vinheta, duas cores.
O cuidado gráfico é notável e vale destacar a editora nesse caso. A Mino vem se mostrando cada vez mais eficiente em apresentar HQs interessantes e realmente “bonitas”, resgatando aquela sensação gostosa de apaixonar-se por um produto físico. Quiral se encaixa com perfeição nessa categoria, o tamanho maiorzinho, a gramatura do papel, as cores já citadas, transformar o folhear das páginas em experiência muito mais interessante.
Quiral é uma HQ curtinha e de leitura rápida, mas a experiência realizada por Damasceno e Garrocho é sofisticada. Os autores, que também são parceiros nas HQs “Achados e Perdidos”, “Cosmonauta Cosmo!” e na Graphic MSP “Bidu – Caminhos”, são mestres na arte de contar uma história com fluidez e delicadeza. Vale a leitura e cria expectativas sobre o desfecho da Mulher e do Capitão: será que vem mais por aí?