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bandavoou: Pluralidade externada em arte

Abre Aspas

*Por Meiri Farias

No fim do meu TCC, durante o primeiro semestre, comecei a consumir música de forma cada vez mais compulsiva e sem necessariamente pesquisar e procurar determinado artista ou trabalho. Nesse exercício de acolhimento espontâneo, ouvia aleatoriamente uma playlist no Soundcloud e continuava os trabalhos da madrugada sem muito sobressalto, até que um violão seguido de um padeiro me fez parar de choque. Nunca tinha ouvido a música e nem se parecia com nada que já tinha escutado. Em meio a uma fase onde o caos e rotina, a trilha sonora por vezes passa despercebida. Não dessa vez: com tudo doido, tudo errado, encontrar “Peraí” da bandavoou foi sair do transe.

A versão do vídeo abaixo está disponível no EP de 2012:

Para compreender o efeito que a música teve sobre mim, é preciso explicar que tenho uma relação muito especial com instrumentos de percussão, e só de ouvir um padeiro, lembro com afeto do Celso Viáfora cantando “sou batuqueiro, não sei rezar / mas quando toco o meu pandeiro, sinto Deus me tocar”. Essa relação quase sagrada, faz com que qualquer música com esse tipo de instrumento me desperte de forma única. O segundo elemento é a memória afetiva. Sou metade alagoana, então tudo que vem do Nordeste tem aquele gostinho de lar e nos últimos tempos, tem me surgido uma curiosidade imensa com tudo que vem de Recife. O sotaque, as cores, história, faz com que minha ânsia por Recife  – que só conheço de foto e sonho – se intensifique com cada manifestação artística que chega de lá. A bandavoou que despertou meu sono do cotidiano, vem desse espaço mágico e lança agora o seu primeiro disco, após dois anos de estrada.

Entre as quinze faixas de “Nó”, está Peraí em nova versão. (a primeira, porta de entrada para conhecer a banda, fazia parte do EP que a banda lançou com apenas vinte dias de formação). O disco está disponível para streaming e download no site da banda e você descobre um pouco mais na entrevista da semana, confira!

Capa - Nó - bandavoou_600

Capa – Nó – bandavoou

Armazém de Cultura: O que podem contar para nós sobre o disco?

bandavoou: Esse disco é fruto de 2 anos de estrada e muita experiência. Sentimos nossa evolução não só enquanto compositores, mas esteticamente o grupo amadureceu muito. São 15 faixas, de gêneros diferentes, que mostram bem uma característica nossa: a pluralidade. Somos plural, gostamos de muita coisa e não quisemos fugir disso. É um disco com nossa cara.

AC: O que mudou na banda e musicalmente do lançamento do EP em 2012 para esse disco?

bandavoou: Nosso EP (2012) é um disco 100% orgânico. Nós gravamos tocando tudo ao vivo. A banda tinha 20 dias de existência e tivemos 4 ensaios para arranjar as 4 composições. Era outra formação. Migramos de um grupo de amigos que tocavam juntos a viver profissionalmente da música e isso muda toda a relação. De lá pra cá rodamos bastante por festivais Brasil a fora e isso nos deu uma bagagem que fez toda diferença nesse disco novo. De alguma forma esse álbum fecha um ciclo e abre um novo caminho para nós. Da mera despretensão a viver da música.

AC: Na descrição do Facebook de vocês lemos o seguinte trecho “Misturando composições a fotografia em movimento”. Poderiam explicar um pouco mais sobre esse “teor fotográfico” no conceito da banda?

bandavoou: Primeiramente, agradecemos essa sensibilidade, pois, isso é algo de extrema importância no surgimento da gente. Marina Sobral (eterna inspiração) sempre mexeu com fotografia, muito além disso, seu posicionamento enquanto artista infectou todo o grupo e isso foi propulsor demais. De repente, queríamos externar tudo em arte. As composições começaram a nascer num volume incontrolável, os arranjos saiam em tardes em sua casa de campo, em Aldeia, fazendo tudo parecer muito fácil. Nina tinha (ainda tem) o costume de captar nossa intimidade, quando e onde as canções nasciam. A colagem, o movimento, as edições de seu olhar foi nos dando um norte estético. Nina nos fez nos entender melhor, naquele período inicial. Importante demais pra gente!

AC: É cada vez mais difícil (e que bom!) classificar ou rotular a música brasileira. Se precisassem classificar o som de vocês, como definiriam?

bandavoou: Hehehehe… Canção Popular Brasileira.

AC: Temos recebido muito material de Recife e percebemos que tem uma cena muito forte na música contemporânea da cidade. O que vocês acompanham e indicariam para quem gostou do som de vocês?

bandavoou: Isadora Melo, dona de uma voz incrível. Rua banda instrumental com o maior zelo do mundo com as texturas, algo raro atualmente. Zé Manoel, amigo, compositor e intérprete completo.

Divulgação 01 - Nó - bandavoou

AC: Vocês começaram postando vídeo na internet, certo? o que acham do papel que a web ganhou na produção e divulgação da música e da arte de forma geral? quais são os pontos positivos e negativos?

bandavoou: Isso, começamos com um vídeo lançado por Nina, sem nos avisar, até que PC foi reconhecido na fila do Bradesco. Certa vez, nosso primeiro baterista (amigo e irmão) Breno Barbosa, após algumas cervejas soltou a seguinte frase: “Eu creio que a internet veio para ficar!” (Isso é piada até hoje, 5 anos depois) Hehehehe. É de fato revolucionário o papel da internet nesse sentido. Flexibilizamos barreiras geográficas. Encontramos conteúdo e conhecimento em poucos cliques. Nos conectamos com um número imenso de pessoas que vibram na mesma frequência que nós. Isso amplifica a consequência de tudo. A distribuição (ponto sensível dentro da cadeia fonográfica) encontrou uma foz para escoar todo volume que é produzido. Do ponto de vista do modelo de negócio (fonte de receita) da indústria fonográfica, a web desmontou a venda física de discos, enquanto fonte principal de vendas. Dentro de uma visão construtivista, não identifico ponto negativo no papel da internet enquanto peça do processo produtivo da música.

AC: Para terminar, como surgiu o nome da banda? tem alguma história específica?

bandavoou: “bandavoou” (junto e minúsculo) diz respeito a uma expressão. Em alguns lugares do país ela tem um caráter pejorativo, até promíscuo.Hehehe

Mas, para nós o sentido é outro. “bandavoou” é uma expressão que diz respeito aqueles que fazem as coisas de forma despretensiosa. “Fulano é uma pessoa muito bandavoou, tranquilo demais… ” Quanto a história… de uma certa feita, Dona Inez (mãe de PC) foi perguntada por uma vizinha sobre qual dos filhos casariam primeiro. Daí, ela respondeu: -“Paulo será o último, ele é muito bandavoou”!

Ouça “Nó”:

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