*Por Meiri Farias
Acho que sou uma espécie de “bastarda” dos quadrinhos. Embora tenha lido um pouco de tudo na infância, inclusive de herói, não venha discutir Marvel x DC comigo – não tomo partido nessa briga. Mesmo flertando – e muito – com a fantasia, a relação com o quadrinho e a literatura em geral, sempre foi uma escolha pelas cores mais obscuras do cotidiano. O real, ou “quase real” e seus desdobramentos sempre teve um apelo muito maior.
O trabalho de Brão Barbosa é inspirado pelo mesmo cotidiano quase real que citei anteriormente: imagine a história mais famosa do mundo contada sob uma perspectiva absolutamente rock’n roll? isso mesmo, o Jesus do Brão é um rockstar! foi esse livro que chamou nossa atenção em julho, na última Fest Comix, enquanto desbrava incansavelmente a genial área dos artistas onde se encontra tudo que está sendo produzido de mais criativo e original no quadrinho brasileiro. Título devidamente anotado, voltei a pesquisar e além de “Jesus Rock’s” encontrei “Feliz aniversário, minha amada”, um quadrinho sobre o amor contado de forma absolutamente inusitada. E guarde bem a palavra inusitada, porque você precisará de algum verbete quando chegar ao fim da história com o queixo no chão. Sem mais delongas, vamos a entrevista! Lembrando que é possível fazer download dos livros do Brão no site braobarbosa.com/
Armazém de Cultura: Nos dois livros que lemos (Jesus Rock’s e Feliz aniversário, minha amada) a temática e diferente e inusitada. Como é o seu processo de criação? de onde tira inspiração?
Brão Barbosa: Minha inspiração vem do cotidiano mesmo. De observar o que acontece em torno e pensar outras possibilidades. O “Jesus Rocks” surgiu de um texto de um amigo meu, o Ariovaldo Jr. Ele escreveu um texto curto e eu adaptei para quadrinhos, criei alguns personagens e coloquei as referências musicais. Já “Feliz Aniversário, Minha Amada” surgiu de uma conversa com minha esposa.
AC: Você faz tanto o roteiro, quanto o desenho, certo? O que é mais difícil para você? Quais são os desafios que cada um apresenta?
Brão: Certo. Ambos têm desafios diferentes. Na construção do roteiro, a dificuldade é criar algo pela primeira vez. Já no desenho, apesar de você já ter visualizando a cena através do roteiro, algumas coisas podem mudar devido à soluções gráficas.
AC: A internet vem se tornando um dos principais meio de divulgação para qualquer artista. Como você, que inclusive disponibiliza o PDF do livro para donwload, avalia o papel da web na produção artística?
Brão: Com certeza. Eu disponibilizo as HQs no meu site e muitas pessoas descobrem as histórias por lá. Eu quero acreditar que isso me ajuda na divulgação e se converte em vendas para os quadrinhos para que eu possa continuar produzindo.
AC: Com tantas novas possibilidades na produção e divulgação do trabalho de um quadrinista, qual é o maior desafio?
Brão: O maior desafio é alcançar um público novo. Apesar de já estar mudando há um bom tempo, quadrinhos ainda é um nicho pequeno se comparado à outras mídias. Então, via de regra, o público geralmente é o mesmo, por isso, nosso interesse é alcançar cada vez mais um público maior.
AC: Você também faz trabalhos de ilustração, certo? o que é mais difícil: criar um trabalho desde o início ou ser pautado para isso?
Brão: Criar é sempre mais complicado quando o próprio artista é criador e avaliador. A falta de limitações é muito perigosa para a obra, e se o próprio autor não se impõe alguns parâmetros, o resultado pode ficar muito vago e inconsistente.
AC: Quais foram suas principais referências no quadrinho nacional e mundial? e atualmente, que trabalhos acompanha e indicaria para quem gostou do seu?
Brão: Os artistas que mais influenciam no meu trabalho são: Edu Medeiros, Skottie Young, Hiro Kawahara, Gustavo Duarte e Gabriel Bá.
AC: Recentemente você publicou em seu Facebook que começou a produção de um novo quadrinho que tem como meta ser lançado no ano que vem. Poderia falar mais sobre isso? Fora esse trabalho, tem mais algum plano para breve?
Brão: Este quadrinho que estou produzindo será maior que os anteriores. Tanto em páginas como em formato. Fora este, faço parte de duas publicações que serão lançadas no FIQ deste ano.