*Por Meiri Farias
Morar em São Paulo dá acesso a muita coisa. Todo e qualquer conteúdo chega com muita facilidade até nós e com a internet a distância se estreita cada vez mais. Ainda assim, um dos principais objetivos do Armazém é compreender e mapear o que está sendo produzido em todos os cantos do país. Como isso nos diferencia? como isso nos une? isso é um dos questionamentos que impulsionam o blog. Talvez não possamos chegar a uma conclusão definitiva, mas o caminho de descobertas tem sido frutuoso.
O Abre Aspas de hoje traz uma banda vizinha: os mineiros da Valsa Binária lançam seu segundo disco e se estabelecem dentro de uma geração que pulsa, produzindo música que dispensa rotulações. “10” traz mudanças de integrantes, estéticas e na estrutura da banda:conversamos com o baixista Salomão Terra e o resultado você lê abaixo:
Armazém de Cultura: “10” é o segundo disco da banda, certo? O que mudou no trabalho de vocês do primeiro para cá?
Salomão Terra: 10 faz parte de um processo de mudança da banda, desde aspectos mais estruturais, como integrantes, até questões estéticas. No primeiro disco, homônimo, o Valsa se apoiava num universo de canções e em referências pontuadas pela música brasileira contemporânea. Não que tenhamos mudado isso, mas o caminho de lá até aqui nos levou a experimentar – e acrescentar – outras estruturas e plataformas. Claro, ainda tem aquele lance das sacadas nas letras, da crítica a aspectos humanos e sociais, mas o amadurecimento musical e de criação se faz mais presente.
AC: O disco tem recebido vários elogios na blogosfera, como está sendo a recepção para vocês?
Salomão: Tem sido ótimo. Nunca dá pra saber como as pessoas vão chegar até à música, ou melhor, como a música vai chegar às pessoas. A questão dos dos blogs e sites especializados é muito importante pra nós, que temos uma estrutura limitada de circulação e distribuição. Não dá pra estar em todas as cidades, todos os dias, e a forma mais fácil de “ir até lá” é através da internet. Vimos também que algumas pessoas se identificaram pontualmente com algumas faixas, o que nos enche ainda mais de alegria.
AC: Gostamos de saber o razão do nome das bandas, por que “Valsa Binária”?
Salomão: Pra variar é um dos nossos trocadilhos (risos). Não existe um motivo específico, mas um conjunto de significados. A valsa é um ritmo ternário e rolou um papo de: “e se tocássemos uma valsa binária”. O lance do binário tem a ver com uma intenção de tecnologia, contrapondo o estilo “arcaico” da valsa. Enfim, nada em específico…
Para ouvir o disco:
AC: Como é o processo de composição de vocês? Todas as canções são autorais?
Salomão: Todas as canções são autorais e no caso de 10, de forma um pouco diferente do primeiro disco, levamos ideias embrionárias para os ensaios. Experimentamos timbres, andamentos, estruturas até chegar a algo que soasse legal em conjunto. Muita coisa mudou na etapa de gravação também. Ao término, o disco ficou mais com cara de banda.
AC: Como a banda se classificaria (ou descreveria) hoje em dia, depois de tantas mudanças de integrantes e acontecimentos?
Salomão: Rock brasileiro contemporâneo? Ou seja… muito amplo (risos). Temos um pouco essa liberdade criativa e nunca discutimos como gostaríamos de soar ou com quem gostaríamos de parecer. Óbvio, temos várias referências, e absorvemos muito da nossa cena local, de Belo Horizonte, mas no final das contas não dá pra classificar muito bem nosso som.
AC: Vocês estão produzindo um videoclipe, certo? Poderiam adiantar algo sobre?
Salomão: A faixa escolhida foi Céu de Abril e vai ser uma brincadeira com o tempo e o espaço. Vamos sobrepor figuras, momentos e elementos num mesmo quadro. Provavelmente será lançado ainda este ano, no mês de outubro.
AC: Quais são as principais influências de vocês? Tem alguma banda ou artista que seja unanimidade na banda?
Salomão: Pergunta difícil. Dos clássicos tipo Beatles, passando pela música brasileira dos tropicalistas pra frente, até os contemporâneos tipo Apanhador Só, temos um espectro de influências bem grande e diversificado.
AC: Queremos conhecer melhor a cena musical de Minas, o que vocês acompanham e indicariam para quem gostou do trabalho de vocês?
Salomão: BH tem sido um lugar incrível para fazer música. Várias bandas têm lançado discos com um alcance nacional. Dos nomes mais falados podemos citar A Fase Rosa, Transmissor, Graveola e o Lixo Polifônico, Nobat, Aldan, Lupe de Lupe, Jennifer Souza e tantos outros. Aliás, é tanta gente fazendo coisa boa que transborda os limites da cidade. Talvez tenhamos saído da ressaca Clube da Esquina/Metal/Pop Rock de décadas anteriores para entrar num novo momento, com novas propostas que possam vir a dar uma identidade desse período.