*Por Beatriz Farias
Senhoras e senhores! É com sentimento agridoce que anuncio o fim do mês. Sofrido para você que assim como esta que lhe escreve, se despede dos dias assistindo Glee enquanto canta “Valerie” fervorosamente. Se você nem ficou de férias e julho é só o tempo em que degusta os resquícios de festa junina, então podemos prosseguir com a alegria de mais um “radinho da Bia”, que chega hoje em sua quinta edição.
“Abrigação” – Angelo Mundy
A música que escolhi para falar a respeito do disco foi a primeira que conheci – ela também é a canção que abre o CD, mas sejamos levados pelas coincidências, certo? – porque a gente nunca sabe quando vai ser pego por uma música, mas essa me escolheu instantaneamente. Seus tons de azul e o que dela derrama é a inegável urgência e calmaria, contradição que só entende quem consegue adentrar a canção e por ela sentir. “Abrigação” é o primeiro disco solo de Angelo Mundy, nele cabe a calmaria sutil – as vezes envolto no caos do silêncio – de nos cantar histórias que também são nossas.
Ouça “Dois, um”
“Muito mais que o Amor” – Vanguart
Tenho a impressão que já contei essa história, mas é impossível falar do disco sem mencionar a origem do gosto que tomei por ele. “Minha alma sabe que viver é se entregar” foi provavelmente a frase que ecoou por mais tempo seguido na mente, e eu que não sabia de onde tinha visto consultei o amigo Google que lembrou-me o quão propicia a entrega de alma é a voz do Helio Flanders e que precisava entender a beleza que a capa do CD sugere. “Muito mais que o amor” é peito aberto. Mergulho no que ainda está para ser descoberto de si ao mundo, lavar a alma e deixar o tempo secar. A música a seguir encerra o disco e foi escolhida porque é beleza que sussurra no ouvido, cortante e sincera.
Ouça “Olha pra mim”
“Esmeraldas” -Tiê
O que me agrada em especial nesse último disco da Tiê (Esmeraldas) é esse tom confessional despretensioso do qual ela se apropriou para nos fazer canções dançantes e acolhedoras. É um canal simples como usado de costume pela mesma, seu valor está na essência de celebrar o que se passa independente de ser uma grande situação ou o dia-a-dia, que carrega em si a leveza da beleza súbita, parafraseando a mesma: com certeza isso é no mínimo maravilhoso. Escolhi “Máquina de Lavar” pra você apertar o play porque ela é a síntese do que já foi dito, inteligência de se apropriar do cotidiano.
Ouça “Máquina de Lavar”
“Canto para Aldebarã” – Thamires Tannous
“Canto para Aldebarã” carrega a sensação de vento no rosto, chuva de fim de tarde em dia de calor ou o alivio de voltar com saudade de si pra casa no fim do dia. É possível que no processo de feitura do disco nenhuma das alternativas anteriores tenha passado pela cabeça de Thamires, mas ao chegar no que me aproprio sem esquecer a essência que escorre lar, esse CD é (re)descoberta, sobre sentir o gosto de estar na vida, e não simplesmente assistir. A música “Delicadeza” que você ouve abaixo carrega essa beleza intima que o próprio nome sugere, sem excluir a forte graça que a voz da cantora espalha na alma.
Ouça “Delicadeza”
“Pontes para Si” – Pitanga em Pé de Amora
Pitanga em Pé de Amora é de longe uma dos grupos mais criativos que o Brasil tem a alegria de dizer que é seu. Conheci seu último disco no fim do ano passado e o seu poder “reinventivo” tem me dado o que pensar desde então. As canções dialogam entre si, porém carregam uma individualidade primordial para que se caminhe entre as pontes propostas, é a liberdade e a plurissignificação que essa palavra traz sem que um sentido exclua o outro. “Descompasso” não é minha faixa favorita do CD, mas acho tão bonito as possibilidades – tanto sonoras, quanto de voo livre pelo que é genuíno e real – que ela carrega, que achei justo terminar assim.
Ouça “Descompasso”