* Por Meiri Farias
Quando era criança aprendi da escola que a palavra história designava os fatos do que se chama comumente de “realidade”. Já estória era o termo usado para narrativas ficcionais, causos inventados, fantasia (vale lembrar do livro Segundas Estórias do Guimarães Rosa). O segundo caiu em desuso e hoje utilizamos história tanto para falar sobre “realidade”, quanto ficção, o que só ajuda a mostrar mais uma vez o quão tênue é essa linha entre real e imaginário.
O livro de hoje no “Tem na minha estante” é uma história em quadrinhos, mas nesse caso, a palavra carrega o peso do significado original: “Carolina, sua vida vai ser linda” é uma HQ biográfica que conta a história de Carolina Seixas, bisavó da autora Luara Almeida e migrante italiana que veio para São Paulo quando tinha apenas quatro anos.
Durante a leitura, mergulhamos no universo da menina Carolina, a partir da narração da Carolina “de hoje” para sua bisneta Luara. Desde a chegada da Itália e o estabelecimento na cidade, conhecemos um poucos de suas lembranças e crescimento pelo traço delicado de Luara. Como já estamos acostumados com ideia do migrante italiano que chega a São Paulo trazendo suas tradições, é interessante observar o outro lado: a adaptação de quem chega, o choque cultural, as primeiras descobertas. Ver o crescimento de Carolina também é compreender as dificuldades e delicias de se encontrar em uma nova terra.
Vale destacar a mistura de linguagens ao inserir fotografias para complementar, enfatizando ainda mais o viés histórico do trabalho e ajudando a contextualizar períodos políticos e cronológicos, como a revolução de 32. As cores utilizadas por Luara (majoritariamente azul), também cria uma atmosfera particular. Luara cria um resgate da memória de sua família, mas também o que aconteceu ao redor, apresentando para nós o que era a cidade de São Paulo pela visão da italianinha.
Como fiel defensora do produto físico em detrimentos de obras digitais (a tecnologia ajuda! mais nada substitui o ato de folhear, pessoal), é preciso lembrar a graça do livro enquanto produto. Financiado coletivamente pelo Catarse, o trabalho de Luara é de uma delicadeza inacreditável. Capricho é a palavra, é o tipo de material que você realmente gosta de ter na sua estante, pela forma e conteúdo.
O livro nasceu do trabalho de conclusão de curso de Luara (saiba mais na entrevista que fizemos com a autora!) e veio para o papel a partir de uma campanha de financiamento coletivo bem sucedido.