A cena musical de Curitiba tem se mostrado rica, criativa e diversa. Conheça os amores e desamores da poesia intensa e dramatúrgica de Leo Fressato
* Por Meiri e Beatriz Farias
Leo Fressato tem muita sensibilidade para falar o que pensa: suas verdades são envoltas na poesia. Sua interpretação indica o caminho do significado que ela toma, mas chega nas pessoa de forma diferente, conforme o processo de identificação e ressignificação de cada um.

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O cantor nasceu em Brasília, mas ainda pequeno foi morar em Curitiba. É compositor desde os 14 anos e traz influências como Cazuza, Clube da Esquina e a banda Belle and Sebastian. Suas composições também podem ser ouvidas em versões de artistas como Alexandre Nero (Tan tan) e A banda mais bonita da cidade (Oração). A descrição do release é clara: “Leo Fressato é feito de flores e de veias saltadas no pescoço. (…) Suas músicas transitam entre o grito e o choro, passando por um leve sorriso”. Formado em Artes Cênicas, faz questão de incorporar o lado teatral às suas composições e apresentações performáticas.
É interessante falar do álbum “Canções para o inverno passar depressa” justo na semana que o verão começou. Um verão que começa um bocado estranho, com uma chuvinha friorenta e persistente, assim como histórias de amores que já foram, mais ficam. Na falta ou abundância, o amor enche o disco até transbordar e nos faz seguir o caminho inverso. Internalizando a poesia de Fressato, encontramos encaixes dentro de nossos próprios amores e desamores, buscando, quem sabe, a saída para o nosso próprio inverno. É hora de veranizar.
Ouça “Veranizar”:
Armazém de Cultura: Você posta poesias com frequência na sua pagina, e a nosso ver, isso gera ainda mais identificação com seu publico que curte comenta e se aproxima ainda mais das suas ideias e pensamentos como artista. O que pensa sobre essa interação? Sobre as poesias, você já tinha essa ideia de postar para a pagina ou surge naturalmente, pela necessidade de escrever?
Leo Fressato: Acho que a interação é fundamental. Vivemos no tempo da interatividade, da aproximação do artista e público. Nada mais natural do que eu como artista me comunicar com este público. As “pílulas poéticas” que surgem na minha página são puramente naturais. Abro a página escrevo e posto (as vezes até escapa um erro de português). Acho que ali é o lugar onde esse fluxo pode aparecer livre e sincero. É um jeito de deixar as coisas mais humanas.
AC: Ter feito faculdade de Artes Cênicas influencia muito seu trabalho como músico? Que outras manifestações artísticas são inspiradoras para você?
Leo: Sem dúvida nenhuma. Minha música é completamente definida pelo discurso. A musicalidade em si, é só um apêndice, uma ferramenta, que auxilia este discurso “dramatúrgico” a ganhar potência. Acho que, seja na arte ou na vida, tudo que me toca o coração é inspirador pra mim.
AC: Em entrevista com a Ana Larousse, ao perguntar da parceria de vocês ela conta que “o Leo me inspira, principalmente, pela leveza e facilidade com que ele compõe. Ele faz compor parecer uma brincadeira despretensiosa”. Poderia contar um pouco como é esse processo de composição?
Leo: O processo criativo parte muito das vivências que tenho. Crio a partir do que vejo e sinto. Tratando as informações como peças teatrais. Normalmente crio a a partir de fluxos emocionais gerados pelas coisas que vejo no mundo. Histórias de amor ou de dor.
AC: Ainda falando sobre a Ana, essa proximidade musical de vocês gera uma influência mútua?
Leo: Com certeza. Somos parceiros e amigos! É impossível que nossas artes nãos e influenciem.
Ouça “Nesse apartamento”, com participação de Ana Larousse:
AC: Pensando que cada interprete coloca uma carga de subjetividade diferente ao cantar, como é ver suas canções gravadas e/ou interpretadas por outros artistas?
Leo: Acho ótimo sempre. Mesmo quando não gosto da versão. Porque acho que todo olhar diferente sobre a minha obra, ao tocar-me, enriquece-me como artista. Mesmo que eu não goste da versão. Ela me toca, me estimula e me faz repensar a canção.
AC: Falando sobre o disco, você também disponibilizou para download gratuitamente. A Internet está mudando a forma de se divulgar e consumir musica? Como isso afeta o trabalho do artista?
Leo: Isso ajuda na ideia de difusão. Mas abriga o artista a buscar novas formas de se capitalizar, que não a de venda da obra.
AC: Suas músicas criam cenários automaticamente na cabeça de quem escuta e por isso seus clipes são muito intensos e bem produzidos. Como foi fazê-los? tem planos para mais algum clipe do disco?
Leo: Fazê-los é sempre uma descoberta, já que não sei muito sobre as possibilidades do vídeo enquanto linguagem. Mas como tenho gente legal comigo nessas empreitadas é sempre delicioso. Espero gravar algum clipe logo… mas no fim das contas não tenho nenhum plano.
AC: Para terminar, tem planos para se apresentar em São Paulo em breve?
Leo: Estou num processo profundo de um espetáculo teatral, o que tem dificultado as estadas fora de Curitiba por hora. Mas para inicio de 2015 temos novidades e São Paulo é um dos lugares pelos quais iremos passar.
Ouça “Enquanto eu não”: