Abre Aspas / Música

Rubel: Músicas e histórias de uma casa chamada Pearl

Usar música como plano de fundo é natural e agradável, mas quantas vezes paramos para escutar realmente aquilo que ouvimos?

* Por Meiri Farias

Na época do vinil ouvir música era quase um ritual: Você parava, admirava a capa, tirava o disco e com cuidado o colocava na vitrola. Tinha que ouvir da primeira a última, virar o lado e continuar (sim, eu sei que os apressadinhos tentavam mudar de faixa, mas a possibilidade de riscar o disco acabava com a magia). Mas e hoje, ainda vale a pena parar e ouvir um álbum do início ao fim? A resposta tem nome: Pearl, o primeiro disco do Rubel.

Foto: Página do artista

Em 2011 o músico carioca morou em Austin no Texas, uma cidade que gira em torno da música. Ficou em uma casa chamada Pearl, onde encontrou diversos músicos e com a ajuda deles compôs e gravou sete músicas na tentativa de contar sobre os meses passou por lá.

Ouvir Rubel é como ter centenas de lembranças de coisas que não viveu. Você sente, visualiza, imagina. Na primeira vez que li sobre seu trabalho, lembro que depois do texto alguém comentou que o som é colorido e essa é a melhor forma de descrever essas canções.

Se possível, deixe o disco tocando, música por música. É como reviver o ritual do vinil, mas com a facilidade do download. E não é que as canções não sejam boas individualmente, porque elas são, mas o álbum toma tal grandiosidade na íntegra, que é preciso ouvir com atenção. Mais que isso, escutar. E durante trinta minutos você também está na Pearl.

Quer conhecer mais sobre o Rubel?

Armazém de Cultura: Embora a sonoridade de algumas canções remeta ao Folk, as letras e a composição de forma geral, carregam uma aura de “brasilidade” (e não só pelas letras em português). Como aconteceu essa mistura, esse intercâmbio musical?

Rubel: Eu cresci ouvindo música brasileira, samba e bossa nova. Certamente muito mais que folk, e provavelmente mais que rock. Isso fica marcado. A história do folk só foi aparecer bem depois, na hora em que eu estava compondo as músicas desse disco. Acho que por isso da mistura. Mas a música brasileira é a mais bonita do mundo.

 AC: Suas canções parecem muito intimas e pessoais. Em entrevista concedida ao canal “Aventura de ler”, você conta que o disco foi finalizado a distância, esse processo foi muito difícil?

 Rubel: O processo foi tranquilo porque o Evan, que mixou as músicas, era um cara extremamente aberto e disposto a experimentar. A gente sempre se correspondia e eu sabia que ele estava investido na ideia. A gente ia continuar trabalhando até chegar no ponto certo. Essa entrega é mais importante até que a proximidade.

Foto: Página do artista

AC: As canções de “Pearl” dão ao ouvinte a impressão de continuidade, não melodicamente, mas na questão do enredo, da história. É proposital ou aconteceu de forma espontânea?

Rubel: Eu, pessoalmente não acho que exista alguma continuidade de enredo. Mas, se realmente existe, foi espontâneo. Eu nunca pensei em um tema maior, ou alguma única história que seria contada em várias partes. Acho a ideia incrível, e pretendo fazer isso algum dia, conscientemente, em outro disco.

Talvez todas as músicas reflitam a minha forma de encarar o mundo, e isso pode dar uma impressão de unidade temática.

Posters das canções de Pearl

Posters das canções de Pearl

AC: O CD desperta emoções, sensações e cores em quem ouve. O caráter descritivo das canções, em especial ‘Pearl’, ajuda a criar quadros e imagens na mente de quem está ouvindo. Sua formação com cinema influência nessa forma de compor, na preocupação com a história?

Rubel: Não sei se a formação em Cinema ajuda, mas certamente a vontade de contar histórias, sim. Acho que a pulsão é a mesma. Eu sempre gostei disso, e, sempre tento fazer com que cada música tenha uma narrativa própria, com início, meio e fim, ainda que não seja tão claro. Mas eu pretendo fazer essa junção ainda mais forte daqui pra frente.

AC: Pensando nisso, no quanto as músicas são “visuais”, podemos esperar um clipe de alguma canção de Pearl?

Rubel: Sim! O clipe do Velho e O Mar já foi financiado através do Catarse, e vai sair no segundo semestre.

AC: A arte também está presente na imagem da capa. Como surgiu esse trabalho?

Capa do disco Pearl

Rubel:  A arte foi trabalho do meu amigo Pedro Zylbersztajn, que sabe muito o que faz. Ele ouviu bastante o disco, a gente trocou umas referências, e um dia ele chegou dizendo que tinha imaginado uns gigantes humildes e gente boa andando por uma floresta. A humildade e a bondade eram proporcionais ao tamanho e à força deles. A partir daí não tinha mais dúvida. O Pedro, por coincidências da vida, também chegou a visitar a casa onde eu morei e gravei o disco. Então a ilustração é diretamente inspirada pela casa original. Virou a casa e os gigantes. Eles acabaram ficando um pouco mais cabisbaixos do que a gente tinha imaginado originalmente, mas a capa é incrível. Ainda tem uma questão do disco seguir uma estrutura triangular, e a capa também, mas isso é uma outra viagem.

AC: Você pode explicar um pouquinhos sobre essa questão da estrutura triangular?

Rubel: O disco tem três faixas com a banda completa que carregam peso e significado mais fortes – a primeira, a quarta (meio) e a última. As outras músicas acústicas são, de alguma forma, pontes para fazer a transição entre esses três pilares do disco. A capa traduz um pouco disso visualmente.

AC: O que a música brasileira pode esperar do Rubel? Quais são seus planos daqui para frente?

Rubel: Pode esperar tudo. Estou compondo devagar as músicas segundo disco, e quero continuar tocando e contando história. Quero muito tocar em São Paulo, mas ainda não tenho data certa.

Ouça “Quadro verde”

O disco está disponível para download no site

 

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